terça-feira, 25 de novembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Museu da Presidência da República apresenta Exposição de Presépios em Castelo de Vide
Exposição “O Presépio - Colecção
de Maria Cavaco Silva”
Igreja de S. João Batista –
Castelo de Vide
29 de novembro de 2014 a 11 de janeiro de 2015
Segunda a Domingo - 10h00-12h30/14h00-17h00
O Museu da Presidência da
República e a Câmara Municipal de Castelo de Vide inauguram a exposição “O
Presépio – Colecção de Maria Cavaco Silva”, no dia 29 de novembro, às 18h30,
com a presença da Dra. Maria Cavaco Silva. Esta mostra, dá a conhecer uma
profusa e curiosa variedade de representações iconográficas da natividade,
contribuindo, com as suas receitas, para uma instituição de solidariedade
social da região – a Conferência de S. Vicente de Paulo de Castelo de Vide.
A coleção de Maria Cavaco Silva
reúne peças de diversas proveniências, desde países longínquos, como Chile e
Tailândia, até aos centros tradicionais de produção presepista portuguesa, como
Barcelos e Estremoz. Traduz uma recolha informada e afetiva efetuada ao longo
dos anos, resultante do seu interesse pessoal, das suas viagens e das suas
funções de representação.
Para além de peças de artesanato,
a coleção integra peças de grande valor simbólico, produzidas por instituições
de solidariedade social. Cerâmica, madeira, lata, barro, azulejo, cortiça são
algumas das matérias-primas que dão corpo aos 200 presépios apresentados nesta
exposição, selecionados a partir de um vasto espólio que reúne atualmente quase
500 peças.
Esta iniciativa conjunta do Museu
da Presidência da República e da Câmara Municipal de Castelo de Vide conta,
ainda, com a colaboração da Diocese de Portalegre e com o apoio mecenático da
Caixa de Crédito Agrícola do Norte Alentejano e da Companhia de Seguros
Fidelidade.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
POETAS DO ALENTEJO: Francisco Bugalho
Francisco Bugalho nasceu em 1905 e
morreu em 1949, no mesmo ano em que Carlos
Queiroz , poeta que no mês passado aqui tivemos em imagens e
palavras e com quem Bugalho partilha “a mesma discrição verbal, o mesmo gosto
da elegância e da doçura”, nas palavras de Adolfo Casais-Monteiro.
Mas se os versos de Queiroz são
Lisboa, os de Bugalho são o Alentejo. O Alentejo das figueira verdes e dos
“choupos curvados”, sim, mas também do “bom silêncio dormente” ou da “sesta
dormida/ aos poucos”.
O seu “abastado bucolismo”, como
se lhe referiu Jorge de Sena, convive com as insatisfações de um ser que chegou
a dilacerar-se por que o homem que vive, e bem, “que ama o conforto”, é o mesmo
poeta que sofre: “Quase não sinto calor / Do meu corpo; em redor / Nem um só
eco de Vida”.
Na sua poesia passam as coisas da
natureza, o que se move e o que está parado, insectos, algas, noites de
solidão, amor, especiarias, “um cavalo branco”, ovelhas e carros lentos. Também
“ondas revoltas do mar / com cadáveres de naufrágios a boiar / de bruços, olhos
mergulhados / e perdidos / na busca dos abismos desejados / e nunca
conseguidos”. E “o meu amigo dia”. E “A Esperança de Dias Novos”.
Este é então um poeta, que resumiu
José Régio, de “rara subtileza dos sentidos para as coisas da paisagem, para a
passagem, na paisagem, dos animais e dos homens”. Ao que se sabe, está para
breve a edição da obra completa de Francisco Bugalho. Amando a vida simples
como ele a amava, sincero e humano, desempoeirado e prático, Francisco Bugalho,
em cada poesia que compunha, depositava um pouco desse sal de irrealidade que é
o tempero de toda a verdadeira sensibilidade do poeta.
João Gaspar Simões – 2/3/49
“Na poesia do segundo quartel do
nosso século, a voz de Francisco Bugalho foi, sem dúvida, das mais pessoais,
das mais discretas e das mais marcadas pelo selo de uma profunda
autenticidade.”
- David Mourão-Ferreira – 1969
in "Viva Voz" - nº 146 - Dez. 1996
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Montado Velho
Meu triste montado velho
Que paz tem quem te procura
E, em ti, vem achar o espelho
De uma vida sem doçura,
Mas livre de enganos vãos!…
Troncos rugosos, mas sãos,
Ásperos, sim, mas generosos,
Todos, na desgraça, irmãos,
Dos maus Invernos ventosos
Montado, além, mais pra além,
Há céus azuis e há searas.
E brandas águas que têm
O brilho de pedras raras,
E não há só solidão!…
Mas essa tua canção
- solução d’alma que anseia –
Também a meu coração,
Furtivamente se enleia.
E aqui me fico contigo.
Sem ternura, nem doçura;
Mas longe do mundo vão,
- Meu velho montado amigo!…
E dos verões, sem pinga d’água.
Montado, que estranha mágua
Te confrange e te redime!
A tua visão afago-a.
És bom cenário pra um crime…
E pra milagres também.
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O Comboio Passa
O comboio passa...
Todas as manhãs acorda a paisagem,
Faz fugir o gado.
E na casa branca, junto da
passagem,
Faz erguer a moça, de olhar
estremunhado.
Tem geada o campo,
Num manto brilhante.
As vacas reparam, com olhos de
gente.
E uns senhores, lá dentro, com ar
indiferente,
Pensam noutras vidas, num mundo
distante...
Vêm de longes terras, que a moça,
coitada,
Nem sonha que existem, estendendo
a bandeira.
E a máquina bruta, estridente,
apressada,
Engolfa-se, aos gritos, por entre
a barreira,
Onde uma calhandra, de há muito,
faz ninho.
Ai de quem encontre, naquele
caminho!...
***************
Tosquia
Rente, rente, rente
A tesoura corta.
E, na tarde quente,
Junho está à porta.
Vem do campo, em volta,
Mágico fulgor
De aroma, que solta
O feno, inda em flor.
Aperna-se o gado,
P'ra tirar-lhe a lã.
Ficou encerrado
Desde esta manhã.
Rente, rente, rente
Que a tesoura corta,
E, na tarde quente,
Junho está à porta.
Um halo de neve,
Espuma ou algodão,
Envolve de leve
As reses no chão.
Na luz forte, em roda,
Zumbem as abelhas.
E há balidos soltos
E tristes de ovelhas.
E ao soltar aquelas,
Livres, já, dos velos,
Parecem gazelas,
Em saltos singelos.
Rente, rente, rente
A tesoura corta,
E, na tarde quente,
Junho está à porta.
sábado, 15 de novembro de 2014
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
NISA: Morreu o Engº Polido Mourato
«Um homem grande com um coração do
tamanho do homem», assim descreve João Manuel Lopes Polido Mourato um dos seus
muitos amigos, o Pe.Américo.
E quem conhecia o Engº. Mourato
sabe que ele era assim, um homem muito grande e muito bom.
Nos últimos anos a diabetes
foi-lhe destruindo a vida, mas permanentemente acompanhado, tratado e
acarinhado pela esposa, a professora enfermeira Lurdes Fonseca Agostinho.
João Manuel Mourato faleceu na
quinta-feira, dia 6, em Portalegre, aos 70 anos, e o corpo seguiu para a sua
terra natal, Nisa, onde esteve em câmara ardente e o enterro se realizou na
sexta com acompanhamento de grande número de amigos que lhe quiseram prestar
uma última homenagem.
Polido Mourato, que ficou órfão de
pai em criança, foi forcado, fez o curso da Escola Agrícola, especializou-se em
engenharia florestal, trabalhou em Montalegre e em Viseu e veio depois para
Portalegre, tendo entre outras missões a gestão do Fundo de Fomento Florestal e
ascendendo mais tarde a director dos Serviços Florestais.
Entre os muitos alegretenses (e
não só) que trabalhavam no perímetro Florestal quando o Estado fazia a gestão
do seu/nosso património, só contava com amigos, porque os trabalhadores
gostavam mesmo dele.
Foi colaborador da FAO e do Banco
Mundial, e já depois de reformado esteve ligado ao ensino profissional nas
Escolas de Alter, Nisa e de Montargil, e à gestão de projectos agro-florestais,
mas a doença obrigou-o a parar.
Durante 15 anos pertenceu ao
Escuteiros e durante 10 anos foi Chefe do Agrupamento
142 do Corpo Nacional de Escutas
(Portalegre) onde muito contribuiu para a formação de muitas crianças e jovens.
À esposa, aos seus três filhos e a
toda a família, AA apresenta sentidas condolências de um bom homem e de um bom
amigo.•
“Alto Alentejo” – 12/11/2014
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
domingo, 2 de novembro de 2014
OPINIÃO: Barros de Nisa
O Alto Alentejo é um retalho de
cor viva deste tapete multicolor de Portugal.
Nesta interessante faixa que se
desdobra ao sol com as suas casas muito brancas e de grandes chaminés, só quem
sofra de anestesia estética não encontra motivos de encanto para os olhos mais
ávidos de notas coloridas.
O povo deste torrão alentejano
além de trabalhar e com “apego à terra” peculiar em todo o alentejano, é de boa
índole e não sei se alguma influência possa ter nele o predomínio da cor
branca, reflectida por toda a parte, visto que o branco – como diz Mantegazza
quando estuda a alma desta cor – não excita os sentidos, não exalta como o
vermelho, não nos repousa como o verde, nem nos eleva como o azul...
Neste retalho de Portugal que tem
lá ao longe como sentinela vigilante a fortaleza de Marvão, tiveram os
Templários, em tempos que já vão longe, um papel importante, principalmente
acentuado no distrito de Portalegre.
Não se limitou a acção dos
Templários apenas á conquista e defesa dos pontos mais investidos pelos mouros:
dela vieram também bastantes benefícios para a lavoura local e pequenas
indústrias derivadas, que embora confusas a princípio e sem valor próprio, se
nos apresentam hoje em dia com algo de aproveitar.
Assim, a cultura do linho que
nesta região foi extensa, originou a indústria de tecelagem em alguns pontos do
distrito de Portalegre, dando em Nisa uma especialização – os alinhavados –
lavor característico, inconfundível.
Aponto aqui uma outra pequena
indústria alentejana que é no entanto uma das mais interessantes e com maior
sabor regionalista – a olaria.
A indústria dos oleiros, além de
ser uma das mais antigas do Alto Alentejo, é aquela onde a gente do povo
manifesta a sua sensibilidade artística, imprimindo aos barros uma
originalidade que é de apreciar.
Quem não conhece os barros de Flor
da Rosa, Amieira, Estremoz e Nisa? Quantos pintores de arte não se têm prendido
com a nota colorida e tão alentejana que dão os barros quando espalhados pelo
chão nos mercados e feiras, expostos ao sol do Alentejo?
Pelo lado artístico – entre os oleiros
do Alto Alentejo – são os de Nisa os que mais cativam, pela graça com que
trabalham o barro, dando-lhe não só uma linha de modelação muito sua e
elegante, mas enriquecendo ainda essa modelação com incrustações de pequeninas
pedras brancas, formando diversos volumes e flores, que fazem das cantarinhas,
alegres e decorativas peças para o lar mais exigente.
Na ornamentação destas
cantarinhas, única no género, observa-se sobretudo uma facilidade enorme de
trabalho e qualidades belíssimas de assimilação desse género de trabalho,
sabendo-se que são geralmente as crianças e mulheres do povo, sem conhecimento
algum do desenho, que fazem essas incrustações ornamentais no barro. É curioso
ver a rapidez com que estes artistas ignorados do povo riscam no barro ainda
mole, as graciosas curvas e ingénuas flores que depois geralmente as raparigas
contornam com pedrinhas brancas.
No entanto, esses desenhos,
devemos confessá-lo, não têm concepção alguma regional e nem o encanto da
ingenuidade possuem, visto que são desenhos tirados aqui e além, alterados cada
vez mais em cada reprodução feita. Em todo o trabalho de decoração a base é
sempre a mesma – a ideia ornamental. Neste caso da nossa olaria alentejana e,
mais particularmente ainda, da olaria nisense, os melhores elementos
decorativos, a meu ver, devem procurar-se na própria Natureza.
Sob este ponto de vista não faltam
no Alto Alentejo valores decorativos a extrair da própria flora, por si mesma
abundante de motivos ornamentais – a espiga do trigo, a folha do carvalho, o
ouriço do castanheiro, a bolota, etc – elementos esses susceptíveis de darem
lindas estilizações do mais rico efeito de composição. É interessante ver como
a silhueta da cantarinha tem a sua semelhança com a linha de contorno da
rapariga da região, vestindo as saias rodadas.
Li já impressão idêntica com
referência à cantarinha de Coimbra, muito semelhante, também, na linha de
contorno, com a silhueta estilizada da tricana.
Decerto, influência de uma imagem
que está gravada nos olhos do oleiro, cujas mãos, modelando o barro, reproduzem
nele, em estilização, uma figura que lhe baila nos sentidos...
Dinis Fragoso in “Revista
Alentejana” – nº 242 – Junho de 1957
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